junho 26, 2010

DOR

As imagens que se seguem retratam uma realidade penosa. Fotos tiradas por Nicholas D. Kristof , jornalista americano e conhecido por trazer à luz a Violação dos Direitos Humanos, nomeadamente os abusos na Ásia e África ,desde o tráfico de seres humanos ao conflito do Darfur.
Um homem que dá voz aos que não têm voz...

As fotos são de jovens de 18 anos ,vítimas do ácido .... que lhes transforma as faces..

" A DOR


Que venha, refúgio ou insónia,futuro
Antigo e comece no campo ou no flanco à direita,onde consome a alma
À esquerda onde exclama no corpo,na seiva ou no chão
Dos sobressaltos (...)

( ...)corre pelo sangue como cervo na noite
Sol que despedaça o peito.O rosto
Se cobre de grandes cinzas,pesadas como uma lágrima,
A Alma, sendo ar,em nenhum lugar sereno
Única posse de que dispomos.É seu
Absurdo desejo,subtil e sem domínio."
Orlando Neves, in "Decomposição -o Corpo"
Um blog que convido-vos a visitar,onde existe muita informação sobre o que se passa pelo mundo,o sofrimento e a luta contra esse sofrimento - http://kristof.blogs.nytimes.com/

41 comentários:

GarçaReal disse...

Impressionante.

Com é possivel que em pleno século XXI ainda se viole assim os direitos humanos.

Almas que choram o que o coração sente.

Bom post de alerta

Bjgrande do lago

Até....:)

Paulo disse...

Olá Meu Doce Amor :)

Trazes à luz do dia a DOR das mulheres que sofrem por este Mundo, pelo horror da guerra, pela desumanidade dos seus captores onde a lei do mais forte se faz sentir no corpo do desalojado ou prisioneiros de conflitos regionais.

Quanto à tremenda injustiça praticada sob as mulheres pelo machismo apoiado por religiões e politica, nem é preciso ir ao Darfur para sentir essa desumanidade, dois exemplos em Portugal:
– escravas sexuais trazidas de outras paragens e forçadas a prostituirem em casas de alterne;
– O clássico machismo exacerbado do marido violento sobre a mulher que os vizinhos e familia calam-se e a polícia "não pode fazer nada".

É preciso coragem, Meu Doce Amor, para expôr a dor como tão bem fazes (para o mal ganhar basta que o bem nada faça), palavras que são para ti:

A mulher é o mais sublime dos ideais, é invencível pelas lágrimas e enfrenta todos os martírios. Nada mais contraditório do que “Ser Mulher” que pensa com o coração, age pela emoção e vence pelo amor.

Beijinho doce e bom fim de semana

Unknown disse...

olá.
gostei do seu blog!
aprendemos sempre que o respeito é o sentimento e ação mais nobre que o ser humano tem,
pena faltar á alguns...
parabens pela postagem

abraço.
www.conchasbelas.blogspot.com

ISA disse...

É triste ...


Os séculos mudam e avançam, pois as mentes continuam muito fechadas??? mas só para alguns quando houver revoltas a sério, não sei o que será destas terras???


bjs

ISA

O Neto do Herculano disse...

Realmente, desconcertante. E doloroso.

Rafeiro Perfumado disse...

Nestes casos sou apologista da justiça draconiana. Um olho por um olho, um dente por um dente. E aos "homens" que fizeram isto, era começar a colocação do ácido nos tomates...

segredo disse...

Como é possivel haver quem sofra assim!?
Beijinho de lua*.*

La Gata Coqueta disse...

Se acerca
en mutuo silencio
y languidez extenuá

Otro fin de semana
para allegar el descaso
y ser disfrutado

Según va emergiendo
cual fuente cristalina
desnudando el alma

En un simulado abrazo
en las verjas del olvido
esperando el siguiente

María del Carmen

MEU DOCE AMOR disse...

Garça real:

Um alerta dado pelo jornalista.Consulta o site e verás muito.

Toda a dor...

"Sem Remédio

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou ...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar! "

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

Beijinho doce e obrigada pela visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

Paulo:

Palavras sentidas as tuas e bonitas..."A mulher é o mais sublime dos ideais, é invencível pelas lágrimas e enfrenta todos os martírios. Nada mais contraditório do que “Ser Mulher” que pensa com o coração, age pela emoção e vence pelo amor."

E se assim é o que esperais ,vós homens, para as tratar com sublimação?Com verdadeira sublimação?

Porque os maus tratos ...estes que aqui foram postados, são dos mais aberrantes que existem.Outros existirão,em toda a parte do mundo.E aqui ao nosso lado sim,em que as mulheres se calam e nada dizem.Continuam a amparar quem lhes causa mau estar.
Ainda há pouco tempo alguém me dizia que as mulheres são piores que os homens...pergunto,porque será? Talvez porque os homens estão cada vez piores?Não encontro outra resposta...

Ahhh!!!E por aqui, no virtual, tb se maltratam as mulheres.Por vezes basta um simples gesto para a ferir...

"Porque Descrês, Mulher, do Amor, da Vida?

Porque descrês, mulher, do amor, da vida?
Porque esse Hermon transformas em Calvario?
Porque deixas que, aos poucos, do sudario
Te aperte o seio a dobra humedecida?

Que visão te fugio, que assim perdida
Buscas em vão n'este ermo solitario?
Que signo obscuro de cruel fadario
Te faz trazer a fronte ao chão pendida?

Nenhum! intacto o bem em ti assiste:
Deus, em penhor, te deu a formosura;
Bençãos te manda o céo em cada hora.

E descrês do viver?... E eu, pobre e triste,
Que só no teu olhar leio a ventura,
Se tu descrês, em que hei-de eu crer agora?"

Antero de Quental, in 'Sonetos'

Qual a resposta para tanta descrença?

Beijinho doce e obrigada pela visita.Volta sempre:)

MEU DOCE AMOR disse...

Olá Priscila:

bem vinda e obrigada pela visita.
Realmente nada melhor que o respeito.Sem ele tudo se perde!

Então...

"Coroemo-nos Pois uns para os Outros

Tuas, não minhas, teço estas grinaldas,
Que em minha fronte renovadas ponho.
Para mim tece as tuas,
Que as minhas eu não vejo.
Se não pesar na vida melhor gozo
Que o vermo-nos, vejamo-nos, e, vendo,
Surdos conciliemos
O insubsistente surdo.
Coroemo-nos pois uns para os outros,
E brindemos uníssonos à sorte
Que houver, até que chegue
A hora do barqueiro."

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Beijinho doce e volta sempre:)

MEU DOCE AMOR disse...

Isa:

Será que alguma vez haverá revolta a sério?

No que respeita às mulheres penso que não.A mulher ama demais.Mesmo quando maltratada,ela continua a amar.Outras lá conseguem dar o "Grito do Ipiranga",a muito custo,mas ganham coragem.Muitas,até bofatadas em público levam e depois 5 minutos depois já estão aos beijos com o agressor,que entretanto lhes passou a mão por cima e lhes disse algo como:"Não me deixes,perdoa-me,adoro-te,és a mulher da minha vida..."etc...

Falta muito para a mulher se libertar definitivamente do jugo dos homens.Estes reinaram durante milhares de anos e tudo lhes foi permitido e ainda é.Homem é homem,não é? Tem perícia em sacudir as calças,para tirar a poeira...e todos as usam e vestem-nas da mesma forma(refiro-me às calças).Ainda muitas mulheres não usam os olhos,os ouvidos e a língua...e quando usam são apontadas ainda.

Mas as mudanças estão a ser feitas...devagar,mas já se fazem sentir.

"CONVENIÊNCIAS DE NÃO USAR OS OLHOS, OS OUVIDOS E A LÍNGUA

Ouvir, ver e calar remédio era
nesse tempo em que os olhos e o ouvido
e a língua puderam ser sentido
e não delito que ofender pudera.
Surdos, hoje, os remeiros com a cera,
um mar navegarei que (encanecido
de ossos, mas não de espumas) com bramido
sepulta quem ouviu voz insincera.
Sem ser ouvido e sem ouvir, ociosos
olhos e orelhas, serei olvidado
pelo cenho dos homens poderosos.
Se é delito saber quem é culpado,
o vício que o indaguem os curiosos
e viva eu ignorante e ignorado."

Francisco Quevedo, in 'Antologia

Beijinho doce e obrigada pela visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

Porque você faz Poema?

Doloroso...desconcertante!Mas quantas não sofrem com um sorriso nos lábios...

"Hino à Dor

Sorri com mais doçura a boca de quem sofre,
Embora amargue o fel que os seus lábios beberam;
É mais ardente o olhar onde, como um aljofre,
A Dor se condensou e as lágrimas correram.

Soa, como se um beijo ou uma carícia fosse,
A voz que a soluçar na Desgraça aprendeu;
E não há para nós consolação mais doce
Que o regaço de quem muito amou e sofreu.

Voz, que jamais vibrou num soluço de mágoa,
Ao nosso coração nunca pode chegar...
Mas o pranto, ao cair duns olhos rasos de água,
Torna mais penetrante e mais profundo o olhar.

Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria,
É frio, como o olhar de quem nunca chorou;
A Bondade é uma flor que se alimenta e cria
Dos resíduos que a Dor no coração deixou.

Em tudo quanto existe o Sofrimento imprime
Uma augusta expressão... mesmo a Suprema Graça,
Dando aos versos do Poeta esse esmalte sublime
Que torna imorredoira a Inspiração que passa.

É por isso que a Dor, sem trégua nem guarida,
Dor sem resignação, Dor de estóico ou de santo,
Só de a vermos passar no tumulto da Vida
Deixa os olhos da gente enublados de pranto.

António Feijó, in 'Sol de Inverno'

Beijinho doce e obrigada pela visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

Rafeiro Perfumado:

Realmente...mas isso é como no antigo testamento.Olho por olho,dente,por dente...

As mulheres ensinam que não é assim.Por isso são mais sábias e esperama hora certa em que elas farão a sua ascensão vitoriosa neste mundo.Porque o futuro está no Amor e não na violência.São imagens horríveis,sim.Mas que quem fez isso seja levado á justiça.Isso é outras coisas.Aliás costumo dizer que quem viola(seja em que sentido for) um dia será vítima da sua própria forma de violar.E chegará o dia!E muita dor haverá!

"Presságio

Ela há-de vir como um punhal silente
Cravar-se para sempre no meu peito.
Podem os deuses rir na hora presente
Que ela há-de vir como um punhal direito.
Cubram-me lutos, sordidez e chagas!
Também rubis das minhas mãos morenas!
Rasguem-se os véus do leito em que me afagas!
— A coroa de ferro é cinza apenas...
E ela há-de vir a lepra que receio
E cuja sombra, aos poucos me consome.
Ela há-de vir, maior que a sede e a fome,
Ela há-de vir, a dor que ainda não veio.

Pedro Homem de Mello, in "Príncipe Perfeito"

Beijinho doce e obrigada pela visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

Segredo:

Eu diria,como é possível haver quem faça sofrer assim?Porque se sofre? Nem precisamos de ir a estes lugares.Volto a perguntar,como é possível fazer sofrer as mulheres,seja lá de que forma for?
Foram as mulheres que deram aos homens o conhecimento(ou seja abriram-lhes os olhos) e por consequencia deram-lhes o poder,durante milhares de anos.e ainda o têm ,maioritáriamente.

"Divina Comédia

Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,

Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N'um turbilhão cruel e delirante...

Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?

Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»"

Antero de Quental, in "Sonetos"

Realmente...

Beijinho doce e obrigada pela visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

La Gata Coqueta:

"Respuesta

Alma: no hiciste un lugar. Por lo tanto,
te fuiste al reino prometido, y que se dobla
ahora cuánto conquistado la soledad,
conducido en un mundo de cambio.

Ni la razón que esperan un bebé permitido
la mayor seguridad de pensamiento!
Alma, de la tierra al cielo la delgada
de su orientación - no fue más ...

Así es la vida - crueles en polvo, la ansiedad
que dio lugar a perfeccionar su acción
en las sombras de dolor y todos los días.

Secreto revelado! El dolor es
fuego, la memoria encuentra
este vacío de la palabra ...

Salvado Antonio, en "On the Edge of Time"

Beijinho doce e obrigada pela visita:))

gota de vidro disse...

Triste que ainda existam barbaridades destas...

Para estes casos a punição deve rigorosa

bom domingo

bjito da gota

Lilazdavioleta disse...

Meu Doce Amor ,
o abuso do homem sobre tudo que vive , perde-se no tempo .
E quando se diz que _ ... em pleno sec . XXI _ ... cenas como estas ou quaisquer outras de crueldade , só desaparecerão com o opressor.
E acredito , que lá no fundo , seja um medo enorme que o torna assim e o leva a cometer todas as atrocidades .
Só uma pessoa em paz e alma limpa aguenta enfrentar uma outra assim .
Daí tanta retaliação .
Que podemos fazer ??? Temos que fazer e não apenas lamentar . Por pouco que seja .
E acreditar que aconteça , um dia ... um milagre .
Oxalá!

Beijo grande ,
Maria

Lilazdavioleta disse...

Meu Doce Amor ,
o abuso do homem sobre tudo que vive , perde-se no tempo .
E quando se diz que _ ... em pleno sec . XXI _ ... cenas como estas ou quaisquer outras de crueldade , só desaparecerão com o opressor.
E acredito , que lá no fundo , seja um medo enorme que o torna assim e o leva a cometer todas as atrocidades .
Só uma pessoa em paz e alma limpa aguenta enfrentar uma outra assim .
Daí tanta retaliação .
Que podemos fazer ??? Temos que fazer e não apenas lamentar . Por pouco que seja .
E acreditar que aconteça , um dia ... um milagre .
Oxalá!

Beijo grande ,
Maria

poetaeusou . . . disse...

*
Amiga,
como é possível, tanta
monstruosidade humana !
,
o nosso desafio é como lidar com
regimes perigosos e hostis em
diversas partes do mundo.
Muitas vezes, é melhor tentar
conversar com monstros do que
tentar matá-los ou obrigá-los
a agir de determinada forma.
,
In - Nicholas D. Kristof
,
Um mar de impotência, fica !
,
*

Luna disse...

Fiquei aqui um pouco a olhar para estas fotos,as palavras parecem ficar retidas,certo dia li que na India é muito comum este tipo de atitude dos maridos, quando se casam levam um dote que é dado pela família da esposa, quando estão fartos das mulheres dizem que elas lhes desobedeceram e tem esta atitude desprezível, nada lhes acontece pois as mulheres devem reverenciar seu amo e esposo, elas são postas na rua e eles voltam a casar a receber outro dote e quem sabe o que acontecerá á nova esposa.
Não entendo o sofrimento do mundo, não entendo que pessoas magoem outras, não entendo como somos chamados humanos,não entendo o mundo as pessoas, meu Deus não entendo tanta coisa, sou uma pessoa cheia de defeitos como tantos de nós, mas não me entra na cabeça as guerras para fazer a paz, não me entra na cabeça o sofrimento que infligimos ás crianças, aos idosos, uns aos outros por pura ganancia, maldade, sei lá... desculpa amiga mas estou revoltada, porque somos assim e porque quem magoa não é punido, desculpa o desabafo

beijinhos

MEU DOCE AMOR disse...

Gota de Vidro:

É triste sim.Mas a justiça...que justiça??? Nos locais emque se praticam situações similares a justiça tarda...e a tristeza toma conta de quem é vítima...

"Quanta Tristeza e Amargura

Quanta tristeza e amargura afoga
Em confusão a 'streita vida!
Quanto Infortúnio mesquinho
Nos oprime supremo!
Feliz ou o bruto que nos verdes campos
Pasce, para si mesmo anônimo, e entra
Na morte como em casa;
Ou o sábio que, perdido
Na ciência, a fútil vida austera eleva
Além da nossa, como o fumo que ergue
Braços que se desfazem
A um céu inexistente."

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Beijinho doce obrigada pela visita:)

A.S. disse...

Imagens verdadeiramente dramáticas!
Até quando assistiremos a estas atrocidades???


Beijosss
AL

MEU DOCE AMOR disse...

LilazdaVioleta:

Pois é!Mas o medo leva a este tipo de comportamentos,por parte do opressor?Nunca tinha pensado assim.Talvez,o medo da recusa?

Olha Lilaz,não acredito em milagres.Pelo menos que eles caiam assim,instantaneamente....

Acredito mais na luta e na divulgação de casos destes ou semelhantes,através,por exemplo da net.Os blogs ou perfis,etc...poderaão ser utilizados para isso.Lamentar somente não,embora faça parte do início do percurso,mas todos têm que "gritar" ao mundo o que se passa.É o que faz o jornalista americano...está lá o site para todos verem.É muito grande e mostra muita coisa...

"O Medo

Que não se confunde. Por existir se ganha
e nos pertence. Sílabas ou linguagem,
busca o centro nas mãos, nos olhos, o contacto
incessante. Percorre os muros da memória,

na penumbra da palavra se instala. Nada
partilha. Como um monólogo se mascara
de gemas, rumores e gotas de ervas. Flui
e estilhaça as pálpebras, domina as casas,

abala os sismos. Ara o corpo, viva árvore
em ascensão, ronda a pele e os jorros do ar.
Até que nos toma e molda o ventre, descobre

o preço diário da invisivel folhagem
solar. É o que se oculta. Livor, sílaba,
margem eterna da inicial prudência. "

Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"

Beijinho doce e obrigada pela visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

PoetaEuSou:

Certamente.Mais vale isso,porque de outra forma perigoso seria?Talvez.Mas denoto muita indeferença por esse mundo fora...muita mesmo.Encontrei um poema que retrata muito bem o que quero dizer...

"Os Grandes Indiferentes

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.

À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.

Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indif'rentes.

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranqüilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.

Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.

Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranqüila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.

O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.

Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença."

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Beijinho doce e obrigada pela visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

Multiolhares:

Compreendo atua revolta.Acho que todos nos revoltamos quando presenciamos situações destas.Mas também não podemos viver angustiados,não é? Estamos num maundo que ainda se move com crueldade e temos que saber viver e lidar com isto.Não devemos ficar nos lamentos,mas devemos ajudar a divulgar e em luta constante para que as consciências se mudem aos poucos...e é bom que se comece com os pequenitos,não é?

"Revolução - Descobrimento

Revolução isto é: descobrimento
Mundo recomeçado a partir da praia pura
Como poema a partir da página em branco
— Catarsis emergir verdade exposta
Tempo terrestre a perguntar seu rosto

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

Beijinho doce e obrigada pela tua querida visita:)

MEU DOCE AMOR disse...

A.S:

Até quando? Não sei.As atrocidades sempre foram uma constante na história da humanidade.fundaram-se Impérios à custa delas...caíram Imperios à custa delas...

Poder é poder.A luta pelo poder e pela riqueza...

Não sei A.S.Mas um dia terá um fim...todos os Impérios caem...e "somos nós todos" que participamos nisso...

"Profecia

Nem me disseram ainda
para o que vim.
Se logro ou verdade,
se filho amado ou rejeitado.
Mas sei
que quando cheguei
os meus olhos viram tudo
e tontos de gula ou espanto
renegaram tudo
— e no meu sangue veias se abriram
noutro sangue...
A ele obedeço,
sempre,
a esse incitamento mudo.
Também sei
que hei-de perecer, exangue,
de excesso de desejar;
mas sinto,
sempre,
que não posso recuar.

Hei-de ir contigo
bebendo fel, sorvendo pragas,
ultrajado e temido,
abandonado aos corvos,
com o pus dos bolores
e o fogo das lavas.
Hei-de assustar os rebanhos dos montes
ser bandoleiro de estradas.
— Negro fado, feia sina,
mas não sei trocar a minha sorte!

Não venham dizer-me
com frases adocicadas
(não venham que os não oiço)
que levo caminho errado,
que tenho os caminhos cerrados
à minha febre!
Hei-de gritar,
cair, sofrer
— eu sei.
Mas não quero ter outra lei,
outro fado, outro viver.
Não importa lá chegar...
O que eu quero é ir em frente
sem loas, ópios ou afagos
dos lábios que mentem.

É esta, não é outra, a minha crença.
Raios vos partam, vós que duvidais,
raios vos partam, cegos de nascença!

Fernando Namora, in "Relevos"

Beijinho doce e obrigada pela tua vista:)

:.tossan® disse...

Os monstros estão impunes. Por que será? Se eu pudesse danificaria a todos.

Nova Civilização disse...

Sem palavras... como pode alguém fazer isso com o seu semelhante. Só um instinto tão animalesco, tão selvagem não consegue ver o seu próximo, ver que somos iguais independente de raça, sexo, cor... Realmente é impressionante e muito triste. Muita dor...

obrigada pela partilha,

beijinhos no coração,

Gisele

Nova Civilização disse...

Sem palavras... como pode alguém fazer isso com o seu semelhante. Só um instinto tão animalesco, tão selvagem não consegue ver o seu próximo, ver que somos iguais independente de raça, sexo, cor... Realmente é impressionante e muito triste. Muita dor...

obrigada pela partilha,

beijinhos no coração,

Gisele

MEU DOCE AMOR disse...

Tossan:

Monstros são seres fantásticos ou criatura lendárias, com ar e actos aterrorizantes.

Os monstros aparecem em quase todas as culturas... encarnam a figura do Mal, que é derrotada por um herói ou cavaleiro que representa o Bem e as virtudes.

São impunes porque têm a capa do mal que os "ilumina".

Se pudesses danificarias todos...então "Transporta um punhado de terra todos os dias e farás uma montanha"( in Confúcio),tão grande onde habitarás e de lá combaterás com a tua "Excalibur" e as tuas Virtudes,esses monstros que proliferam no mundo.Eu ajudo-te!

Mas na verdade,é difícil combatê-los...o melhor é mesmo construir a montanha todos os dias.Um dia ela ganhará força...

Beijinho doce e obrigada pela visita:))

Sonhos e Devaneios disse...

olá meu doce amor, que triste esta verdade. e que triste nos sentimos por saber que crueldades como estas ainda acontecem em nosso mundo. Quantas vitórias conseguimos ao longo dos anos e quantas derrotas sentimos ao ver situações como esta.
beijo em seu coração
com carinho
joao

Me permita disse...

Meu Deus, quantos psicopatas assolam o mundo, o nosso cotidiano...? Quantos sub-humanos se acham no direito de fazer tantas coisas ruins com essas mulheres, com tantas mulheres pelo mundo afora? Sabe, esse tipo de maldade não é aquela que é fruto da questão social e cultural, esse tipo de maldade é a que vem do fundo da alma, não há perdão para esses monstros, melhor que nunca tivessem nascido!

Belo trabalho de denúncia, minha amiga! Abraço!

O Árabe disse...

terrível realidade... necessária postagem. Boa semana!

MEU DOCE AMOR disse...

`Sonhos e Devaneios:

Acontece sempre.Somos vencedores vencidos amanhã?

"Aos Vencedores

Visto que tudo passa e as épicas memorias
Dos fortes, dos heroes, se vão cada vez mais,
Que tudo é luto e pó! ó vós que triumphaes
Não turbeis a razão nos vinhos das vãas glorias!

Não ergais alto a taça, á hora dos gemidos,
Esquecidos talvez nos gosos, nos regallos;
E não façaes jámais pastar vossos cavallos
Na herva que cobrir os ossos dos vencidos!

Não celebreis jámais as festas dos noivados,
Não encontreis na volta os lugubres cortejos!
- E se amardes, olhae que ao som dos vossos beijos
Não respondam da praça os ais dos fusilados!

Sim! - se venceste emfim, folgae todas as horas,
Mas deixae lastimar-se os orphãos, as amantes,
Nem façaes, junto a nós, altivos, triumphantes,
Pelas ruas demais tinir vossas esporas!

Pois toda a gloria é pó! toda a fortuna vã! -
- E nós lassos emfim dos prantos dolorosos,
Regámos já demais a terra--ó gloriosos
Vencedores! talvez, - vencidos d'amanhã!

António Gomes Leal, in 'Claridades do Sul'

Beijinho doce e obrigada pela visita

MEU DOCE AMOR disse...

Me Permita:

É um mal que vem do fundo a Alma.E um dia verão a Luz? Porque nasceram?Quando passará a noite?

"Magnificat

Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia !

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Beijinho doce e obrigada pela visita

segredo disse...

Eu nao consigo aceitar ou simplesmente entender o quanto certas pessoas, religioes, sao crueis, ingratas, desumanas.
Vidas sem sentido por culpa de alguem!
Beijinho de lua*.*

MEU DOCE AMOR disse...

Árabe:

Concordo contigo.Uma realidade num mundo de discórdias...

"À Discórdia

Pouco importa amarrar com mão valente
A Discórdia infernal, com cem cadeias,
Que ela tem subtilezas, tem ideias
De saber desligar-se facilmente.

De que serve lançar limpa semente
Em chão infecto, de zizânias feias,
De ervilhacas, lericas, joio, aveias,
Sem os campos limpar primeiramente?

Ninguém, té gora, à ligadura górdia
O nó soube desdar, que o vil Egoísmo
Empata as vazas à geral Concórdia.

Não se pode extinguir o Despotismo,
Nem acabar c'o império da Discórdia,
Sem cortar a raiz do Fanatismo.

Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'

Beijinho doce e obrigada pela visita

MEU DOCE AMOR disse...

Nova Civilização:

Nem diria animalesco.Porque muitos nem animais são.Estes vivem em concordancia com a Natureza...aqueles vivem em concordancia com o mal,provocando a dor e o sofrimento.

"A Dor Tem um Elemento de Vazio

A Dor - tem um Elemento de Vazio -
Não se consegue lembrar
De quando começou - ou se houve
Um tempo em que não existiu -

Não tem Futuro - para lá de si própria -
O seu Infinito contém
O seu Passado - iluminado para aperceber
Novas Épocas - de Dor.

Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"
Tradução de Nuno Júdice

Beijinho doce e agradeço a visita

MEU DOCE AMOR disse...

La Gata Coqueta:

Obrigada pelo lindo poema.
Que floresçam as sementes da amizade e de alegria,por esses espaços fora.

"Alegría

De los dolores pasados, decepciones
amargura adoptadas en treinta años,
de las ilusiones de edad,
pequeñas traiciones
He encontrado a mi manera ...
cada daño injusto, cada espina
Salí de la mancha oscura en el pecho

una nueva amargura ...
Cada crueldad
que enlutaron a mi juventud ...
De cada sanción injusta
envenenado un día y todavía venenos
Mi alma estaba en calma y fuerte ...
Cada muerte
que va a vivir conmigo, mi vida,
cada cicatriz,
Hice
ni llanto, ni dolor, ni nostalgia
pero la alegría heroica.

Causa sin alegría, alegría de los animales
que ningún mal
puede ganar.
Loco placer
de respirar!
Lujuria para encontrar
honestidad en el marco del descalzo la tierra.

Feliz a abandonar los gestos falsos,
feliz de volver,
respiración
buena fe y sin capricho,
como las hierbas y los animales.
Voluptuosa alegría de morder
frutas y rosas con olor.

Alegría brutal y primitiva
de estar vivo,
felices o infelices
pero firmemente unido a la raíz.

Voluptuosidad de la sensibilidad en mi mano,
la corteza del pan.
Voluptuosidad de sentirse fuerte y ágil
y, finalmente, sabe que sólo la muerte
Es triste y sin remedio.
El placer de negar y destruir
el aburrimiento,

Este saco impar,
y líbrame a la vida como
una adicción.

Alegría!
Alegría!
Voluptuosidad de sentir todos los días
Incluso más enfermos, más triste, más dolorosa
pero cada vez más aferrado a la vida!

Fernanda de Castro, en "D'detrás y más allá de Alma"

Beijinho doce e agradeço a visita

MEU DOCE AMOR disse...

Segredo:

Pessoas crueis,religiões crueis,desumanas...tudo na esfera fundamentalista e desrespeito pelas diferenças...

Se falamos em culpa...olha que se calhar todos a temos,uns mais ,outros menos.Uns porque fazem,outros porque se calam...etc...

"Mea Culpa

Não duvido que o mundo no seu eixo
Gire suspenso e volva em harmonia;
Que o homem suba e vá da noite ao dia,
E o homem vá subindo insecto o seixo.

Não chamo a Deus tirano, nem me queixo,
Nem chamo ao céu da vida noite fria;
Não chamo à existencia hora sombria;
Acaso, à ordem; nem à lei desleixo.

A Natureza é minha mãe ainda...
É minha mãe... Ah, se eu à face linda
Não sei sorrir: se estou desesperado;

Se nada há que me aqueça esta frieza;
Se estou cheio de fel e de tristeza...
É de crer que só eu seja o culpado!

Antero de Quental, in "Sonetos"

Beijinho doce e espero o teu retorno