“A
crueldade é constitutiva do universo, é o preço a pagar pela grande
solidariedade da biosfera, é ineliminável da vida humana. Nascemos na crueldade
do mundo e da vida, a que acrescentámos a crueldade do ser humano e a crueldade
da sociedade humana. Os recém-nascidos nascem com gritos de dor. Os animais
dotados de sistemas nervosos sofrem, talvez os vegetais também, mas foram os
humanos que adquiriram as maiores aptidões para o sofrimento ao adquirirem as
maiores aptidões para a fruição. A crueldade do mundo é sentida mais vivamente
e mais violentamente pelas criaturas de carne, alma e espírito, que podem
sofrer ao mesmo tempo com o sofrimento carnal, com o sofrimento da alma e com o
sofrimento do espírito, e que, pelo espírito, podem conceber a crueldade do
mundo e horrorizar-se com ela.
A
crueldade entre homens, indivíduos, grupos, etnias, religiões, raças é
aterradora. O ser humano contém em si um ruído de monstros que liberta em todas
as ocasiões favoráveis. O ódio desencadeia-se por um pequeno nada, por um
esquecimento, pela sorte de outrem, por um favor que se julga perdido. O ódio
abstracto por uma ideia ou uma religião transforma-se em ódio concreto por um
indivíduo ou um grupo; o ódio demente desencadeia-se por um erro de percepção
ou de interpretação. O egoísmo, o desprezo, a indiferença, a desatenção agravam
por todo o lado e sem tréguas a crueldade do mundo humano. E no subsolo das
sociedades civilizadas torturam-se animais para o matadouro ou a
experimentação. Por saturação, o excesso de crueldade alimenta a indiferença e
a desatenção, e de resto ninguém poderia suportar a vida se não conservasse em
si um calo de indiferença. “
Edgar
Morin, in 'Os Meus Demónios'
Em
que mundo vivemos? Para onde vamos? E quando crianças são crueis? O que fazer?
Estou
desolada … pois tive conhecimento!
3 comentários:
Inquietante... mas de leitura útil e muito interessante! Mais um belo post, Doce Amor; boa semana!
La música me ha encantado. Es cierto todo lo que acabo de leer, el sufrimiento de los seres vivos, no sabemos hasta que grado llega pero, lo que es indudable, es que también existe. Un abrazo. Franziska
Yo casi me atrevería a jurar que he leído el texto publicado y que dejé un comentario. No creo que me lo haya inventado, por eso pienso que todavía no lo habrás publicado porque algo lo habrá impedido.
Un abrazo. Franziska
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