" ( ... ) No dia 14 de Agosto de 1385 , logo pela manhã, o exército de D. João I ocupa uma posição fortíssima no terreno, escolhido na véspera por Nuno Álvares Pereira. No final da manhã chegam os castelhanos, que circulam pela estrada romana. Evitam o choque com os portugueses, uma vez que isso implicaria a subida de um terreno em condições extremamente desfavoráveis. Preferem tornear a forte posição portuguesa pelo lado do mar, até estacionarem na ampla esplanada de Chão da Feira. O exército anglo-português move-se, então, uns dois quilómetros para Sul e inverte a sua posição de batalha para ficar de frente para o inimigo. Confiante na sua superioridade, a hoste castelhana admitia agora combater. Enquanto isso, o exército anglo-português tirava o máximo partido da sua nova posição no planalto de S. Jorge. A frente era bastante estreita e achava-se bordejada, a nascente e a poente, por duas linhas de água, que coincidiam com outros tantos barrancos. A espera permitira também efectuar, ou completar, uma série de fortificações acessórias, destinadas a reforçar a protecção dos flancos e a criar dificuldades ao avanço castelhano. Assim, rasgou-se fossos e cavou-se covas-de-lobo, que escavações recentes continuam a pôr a descoberto. Cortaram-se e empilharam-se troncos de árvores, formando-se com eles "abatizes". Depois, uma grande parte deste dispositivo de defesa foi disfarçada com ervas e ramagens. A hoste portuguesa desenhou, então, no terreno, uma espécie de quadrado. Tinha umas orelhas muito pronunciadas, devido ao avanço das alas de arqueiros e besteiros e incluía uma vanguarda desmontada de arqueiros e besteiros e incluía uma vanguarda desmontada de lanceiros chefiada por Nuno Álvares Pereira. Duzentos ou trezentos metros mais atrás, estava a retaguarda ou reserva, também ela apeada e comandada por D. João I. Ao fundo ficou estacionada a "carriagem", ou trem de apoio. Os flancos foram forrados com tropas de composição mista. A vanguarda castelhana, formada a uns 700 metros a Sul, incluía um grande número de "lanças" dispostas em várias fileiras. Em cada uma das alas havia centenas de cavaleiros. A retaguarda, ainda incompleta quando se iniciou o combate, reunia alguns milhares de "homens de armas", distribuídos por várias linhas. Passava das 18 horas quando se deu o assalto castelhano à posição portuguesa. Atacaram de forma impetuosa. Uma vez iniciada a batalha, é então possível referir os cinco principais momentos do combate:
1º - a impetuosa vanguarda do rei de Castela (na sua maior parte constituída por tropas auxiliares francesas, como claramente assegura Froissart) inicia o ataque provavelmente a cavalo, sendo rechaçada nas obras de fortificação antecipadamente preparadas pela hoste de D. João I, obras essas que constituíram uma surpresa absoluta para os seus arrogantes adversários. Para prosseguir o combate, os franceses são obrigados a desmontar (aqueles que o conseguem fazer) na frente do inimigo e, por isso, em posição absolutamente crítica.
2º - ao saber do desbarato da sua linha da frente, a 'batalha real' de D. Juan I decide avançar (com ou sem a presença do seu adoentado monarca), provavelmente também a cavalo. Ao aproximarem-se da posição portuguesa, apercebem-se de que - contrariamente ao que supunham - o combate está a ser travado a pé (ou tem de ser travado a pé, dadas as características do sistema de entrincheiramento defensivo gizado pela hoste anglo-portuguesa). Por isso, os cavaleiros castelhanos desmontam cedo e percorrem a pé o que lhes falta (escassas centenas de metros) até alcançarem os adversários. Ao mesmo tempo, cortam as suas compridas lanças, para melhor se movimentarem no corpo-a-corpo que se avizinha;
3º - entretanto, os homens de armas de D. Juan I vão sendo crivados de flechas e de virotões lançados pelos atiradores ingleses e portugueses, o que, juntamente com o progressivo estreitamento da frente de batalha (devido aos abatises, às covas de lobo e aos fossos) os entorpece, embaraça e torna "ficadiços" (no saboroso dizer de Fernão Lopes) e os aglutina de maneira informe na parte central do planalto; tais foram, porventura, os minutos mais decisivos da jornada;
4º - quanto às alas castelhanas, essas permanecem montadas, destinadas que estavam - como era tradicional na época - a ensaiar um envolvimento montado da posição anglo-portuguesa, coisa que, devido à estreiteza do planalto, apenas a ala direita (chefiada pelo Mestre de Alcántara ) terá conseguido, e mesmo assim numa fase já tardia da refrega;
5º - o pânico apodera-se do exército franco-castelhano, que se precipita numa fuga desorganizada. Segue-se uma curta, mas devastadora perseguição anglo-portuguesa, interrompida pelo cair da noite. Até à manhã do dia seguinte, milhares de castelhanos em fuga são chacinados por populares nas imediações do campo de batalha e nas aldeias vizinhas. Castela mergulhará num luto profundo até ao Natal de 1387.
Quando, dentro do quadrado português, a bandeira do monarca castelhano é derrubada, D. Juan de Castela põe-se em fuga, em cima de um cavalo, juntamente com algumas centenas de cavaleiros castelhanos. Percorre nessa noite perto de meia centena de quilómetros, até alcançar Santarém, exausto e desesperado. Embarca nessa mesma noite em direcção a Lisboa, aonde chega no dia seguinte, dia 15 de Agosto e é recolhido pela sua frota. A 17 de Agosto, parte por mar para Sevilha. O restante das forças franco-castelhanas saem de Portugal, parte passando por Santarém e depois por Badajoz e, outra parte, para Castela, através da Beira. No campo de batalha, as baixas portuguesas foram cerca de 1000 mortos, enquanto no exército castelhano se situaram em aproximadamente 4000 mortos e 5000 prisioneiros. Fora do campo da batalha, terão sido mortos nos dias seguintes pela população portuguesa, cerca de 5000 homens de armas, em fuga, do exército castelhano."
Retirado de http://www.aljubarrota.net/batalha.php
Que o Espírito de Aljubarrota perdure em cada um de nós como um Caminho de Possibilidade ... como um Caminho de Luta Diária ...
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