Como se Morre de Velhice
“Como se morre de velhice
Ou de acidente ou de doença,
Morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
Onde o que se sente e se pensa
Não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
Onde se escreve igual sentença
Para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
Sem estímulo ou recompensa
Onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
Sinto a minha própria presença
Num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
Nem de acidente nem de doença,
Mas, Senhor, só de indiferença.) “
Cecília Meireles, in 'Poemas (1957)
‘-Citador
Beijinho doce